sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A vidente

A Vidente

Em uma tarde de novembro de 2010, Antônio ria da conversa que estava tendo com Fabiana a respeito de sua visita a uma vidente.
_ Pode rir, vocês homens não acreditam nestas coisas. Mas saiba que ela adivinhou tudo o que eu queria saber a nosso respeito.
Antônio, num gesto de carinho, tranqüilizou-a e disse que jamais lhe esqueceria. Mas chamou a sua atenção quanto a essa visita, pois José poderia descobrir e tudo complicaria.
_ Sabe! Tive muito cuidado. Ninguém estava por perto.
_ Onde é a casa?
_ Na rua Germano Hentschke, não passava ninguém no momento.
Antônio morria de rir e perguntou:
_ Você acredita mesmo nisso Fabiana?
_ Hamelet já dizia: “Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã Filosofia”. E assim ela explicava sua crendice pelas palavras da vidente.
Antônio adorava aquela paixão que Fabiana demonstrava, e entre encontros escondidos dentro do carro, naquela rua deserta próxima ao cemitério, trocavam olhares e carícias.
Conheceram-se através da amizade de infância entre Antônio e José, que depois de um longo período de estudos na cidade de Santa Maria, retornou a sua cidade natal, com sua esposa Fabiana, reencontrando Antônio.
Com a morte da mãe de Antônio, aproximaram-se, pois José cuidou das questões burocráticas do enterro e Fabiana das sentimentais. E assim iniciou-se a paixão. A princípio Fabiana tornou-se uma companheira, quase irmã, compartilhando dos mesmos gostos por livros, filmes, jogos, músicas... Encontravam-se para conversar, trocar ideias. Foi no aniversário de Antônio que Fabiana declarou-se com um cartão e palavras que demonstravam todo o seu interesse pelo moço. Antônio até tentou resistir aos encantos da esposa do amigo, mas Fabiana “deu em cima” insistentemente, que não conseguiu fugir.
Certo dia Antônio começou a receber bilhetes anônimos em sua caixa postal que ofendiam e demonstravam que o romance não era mais oculto. Neste momento Antônio e Fabiana se afastaram e combinaram de comunicar-se por e-mail e não mais se encontrarem pessoalmente, para afastar suspeitas. Preocupado,Antônio precisava avisar Fabiana dos fatos. Dias depois recebeu novos bilhetes com dizeres apaixonados, que os deixaram intrigados com as diferentes escritas.
_ Antônio, deixe que levo os bilhetes e comparo as letras para vermos se existe ligação entre eles, não se preocupe que guardarei e depois rasgarei.
No dia seguinte José mandou um e-mail para Antônio:
_ Venha já em minha casa, precisamos conversar com urgência.
Neste instante um turbilhão de pensamentos ruins inquietaram Antônio. Embora percorrendo o caminho com seu carro, mais parecia que andava a pé, pois os tormentos aumentavam à medida que chegava mais perto. Na rua Marechal Deodoro teve que parar, pois um acidente interrompia a rua que estava cheia de curiosos. Olhando para o lado direito percebeu que estava frente à casa da vidente que Fabiana tinha consultado. Muito vinha a sua cabeça, a frase que Fabiana citara, as histórias contadas por sua mãe e a curiosidade em saber sobre os fatos levaram-no a entrar na casa e consultar a vidente. O ar sombrio da velha casa, as vestes e a pobreza deixaram-o mais inquieto quanto ao prestígio da vidente.
Iniciando a consulta, a vidente disse o motivo que o levara até ela:
_ Você está muito assustado!
Antônio confirmou.
_ Quer saber se acontecerá alguma coisa?
_ Comigo e com ela, disse Antônio.
A vidente tranqüilizou-o, dizendo que nada aconteceria e que José não conhecia os fatos, mas que precisam cuidar-se das “más línguas”.
Seguiu então para o encontro na casa de José. Chegando lá, José abriu a porta, levou-o para uma sala pequena onde estava Fabiana morta e ensangüentada, e sem dizer nada, deu-lhe dois tiros.

                                                       Postado por Carla e Elisa

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